Caso Unity e o uso de software proprietário
Para quem não ficou sabendo, essa semana a empresa Unity Technologies anunciou um novo modelo de cobrança para a UnityEngine (ou simplesmente Unity), um famoso motor de jogos que é utilizado em uma infinidade de jogos por aí, desde grandes lançamentos até jogos indies.
Por ser um software proprietário, hoje já é cobrado um valor no modelo de licenciamento anual para uso do editor deles, com diversos planos diferentes para pequenas e grandes equipes (incluindo planos gratuitos). Mas na última terça feira (12/09) a empresa anunciou uma nova cobrança, dessa vez uma taxa para cada vez que o jogo fosse instalado, incluindo reinstalações no mesmo dispositivo. Simples assim, sem discussões prévias, sem dar mais detalhes de como seria o controle, só definindo algumas regras básicas de número de instalações ou número de receita mínimos para começar a valer essa nova cobrança. Essa taxa valeria até para jogos já existentes e disponíveis no mercado, não somente novos lançamentos.
Com isso várias empresas desenvolvedoras de jogos e desenvolvedores individuais se manifestaram contrários a decisão, ameaçando despublicar seus jogos e anunciando que migrariam para outros motores de jogos. A revolta não foi somente pela cobrança em si, mas também pela forma que isso foi anunciado e pela falta de transparência por parte da empresa.
E isso me fez pensar nos outros impactos que essa decisão traz, olhando por uma perspectiva do mercado de tecnologia e de desenvolvimento.
Existem pessoas que se especializaram em Unity (que utiliza o C# como linguagem de programação), estudaram e desenvolveram suas carreiras em cima dessa tecnologia, e simplesmente por decisão unilateral da empresa, podem acabar tendo de migrar de carreira.
Já vimos isso acontecer de certa forma por exemplo com o Docker Desktop, que de uma hora pra outra passou a ser um software pago para uso empresarial.
Nessa caso a engine do docker ainda continuou gratuita (por ser de código aberto), então o impacto foi menor, mas mesmo assim tivemos que buscar alternativas para substituir o Docker Desktop para continuar com uma interface gráfica para gerenciamento de containers.
Ao meu ver isso mostra um pouco o “perigo” do uso de programas proprietários. Imagina se o GitHub resolvesse começar a cobrar por cada download de repositório ou por cada commit? Ou o Figma decidir começar a cobrar por cada vez que um projeto for visualizado? Ou se o Jira adicionar uma taxa por cada task aberta? Teoricamente as empresas poderiam fazer isso, já que os programas são proprietários e as empresas controlam seus termos de uso.
O quão vulneráveis nós somos a esse tipo de ação por parte das empresas que detém esses softwares proprietários que acabam ficando enraizados no nosso fluxo de desenvolvimento?
Eu pessoalmente advogo bastante pelo uso de software livre, mas nem sempre isso é possível, principalmente porque alguns softwares proprietários acabam se tornando o padrão de mercado e as vezes existem poucas alternativas de código aberto tão robustas.
Quais cuidados podemos ter, como desenvolvedores e profissionais de tecnologia, para evitarmos sofrer com esse tipo de situação?
Falando especificamente do Unity, a empresa acabou revendo em partes algumas das medidas depois de toda a revolta, mas imagino que o dano tenha sido permanente. Quem vai voltar a confiar na empresa depois dessa?
Compartilhe: Twitter - Facebook - LinkedIn